Filtro de ar esportivo… Performance ou modismo?

Trocar o filtro de ar “stock” (de fábrica) da sua moto por um esportivo de “alto desempenho” é praticamente a primeira alteração que o proprietário realiza nas personalizações de sua nova moto. Muitas inclusive já são adquiridas de segunda mão com o filtro de fabricantes de acessórios. Todo mundo certamente ouviu falar do famoso filtro “K & N” e suas histórias. Porém, devemos observar com critério as características da moto e as implicações que uma alteração dessa natureza pode resultar, antes da compra e instalação de um filtro desse tipo. Até mesmo o local onde você mora pode interferir na performance…

Fluxo de ar da caixa refrigeradora da Indian Scout

A ESPERA DE UM MILAGRE
Por mais interessante que as propostas desses filtros de “alta performance” ofereçam em suas propagandas, não existe nenhuma fórmula mágica que irá mudar o processo de como a captação de ar foi idealizada pelo fabricante da moto. Não existe milagre nesse quesito: – o ar entra apenas por um único lugar dentro do motor, que é pela cavidade de admissão, no corpo da “borboleta” (famoso TBI), acionado pelo acelerador da moto. O filtro fica instalado antes dessa cavidade com o único e exclusivo trabalho de remover as impurezas do ar para que não entrem dentro do motor (que poderia causar estragos fatais). O motor pode funcionar sem o filtro (correndo o risco que já mencionamos), porém a quantidade de ar que entra pelo duto do TBI será sempre a mesma e apenas por lá ele entrará. Um filtro mesmo que com “colmeias” que possam em teoria gerar um micro turbilhonamento no ar antes de entrar no TBI, ainda assim não conseguirá aumentar a capacidade de entrada de ar no sistema, Um filtro sujo, por outro lado estrangulará a entrada do ar, mas ainda assim conseguirá oferecer ar suficiente para que aconteça a combustão. Um filtro entupido ou alguma coisa obstruindo a entrada de ar, (como uma placa de metal de obstrução, tal como a Indian do Brasil usou nas primeiras Scouts para que pudesse passar nos exames de vistoria veicular), sufocará o motor, impossibilitando que exista o processo de combustão. O que quero dizer que muito ar, ou pouco ar significa quase a mesma coisa para o TBI, pois o duto é de um único tamanho e capacidade de captar o ar, e a central eletrônica da moto está preparada para admitir o ar em tempos sincronizados para que exista a mistura correta com o combustível (vindo dos bicos injetores) e a faísca proveniente das velas. Não adianta apenas jogar mais ar, porque esse não será admitido. Desculpe se estraguei a magia do filtro “K&N” para você.

Filtro “Highflow”, a água é o vilão…

ENTÃO NÃO VALE A PENA COMPRAR UM “K&N”?
Não é essa a questão. Na verdade o que mais importa é se o ar está muito quente ou frio.
Vale muito a pena comprar um filtro que seja lavável, pois além de representar uma economia a médio prazo (o regime médio de troca de filtro é entre 7.000 e 15.000 km dependendo da moto e seu uso), se tem a possibilidade de sempre estar com esse componente limpo. E por ser reutilizável é totalmente concordante com o meio ambiente. Esses aspectos já justificam sua aquisição. Só não espere uma revolução na performance de sua moto e nem acredite em promessas milagrosas. Lembre-se que não é só a admissão de ar que faz parte do processo. Para algum resultado efetivo se faz necessário ajustar a alimentação e mapeamento de combustível, a exaustão dos gases entre outras coisas. O que é imprescindível é se preocupar com a instalação correta e seu uso. A instalação numa Indian Scout por exemplo, tem critérios rígidos para serem seguidos. A instalação numa Harley Davidson tem que ser muito bem realizada (se uma porca se soltar do filtro e conseguir passar pela borboleta do TBI… Adeus motor…). Sob a utilização, se o filtro for do tipo “intake” ou “Highflow”, note que esse filtro é instalado e seu elemento é deixado exposto externamente na moto, ficando susceptível a uma gama maior de detritos, poeira e principalmente a água. E a água é o principal vilão desses filtros. Só a unidade já é um fator preocupante a passar pelo duto de ventilação, a água então é um atestado de óbito para a qualidade do óleo e a vida do motor. O óleo já sofre em sua validade por ser hidroscópico e se ainda for alimentado por umidade ou água na captação do ar para a combustão, o resultado será a curto prazo muito danoso para a moto. Já tratamos em outra postagem, o que a umidade no óleo faz com os discos de embreagem e nesse mesmo assunto vimos que a partir de seis meses de uso, o óleo já começa a absorver umidade. E não adianta usar as lindas capinhas fornecidas com os filtros externos. pois elas não são eficazes.

Nunca remova essa peça na hora de instalar seu filtro na Indian Scout

UM POUCO DE FÍSICA
O maior erro que se pode cometer na instalação desses filtros de alta performance, é a de favorecer a entrada de ar quente no motor. No caso da Indian Scout, é comum ouvir que removendo a caixa de refrigeração e contenção de ar vai melhorar a captação do ar pelo TBI. O problema é que ao remover a caixa de contenção de ar (que além de isolar o ar do contato com o motor, ainda faz o ar passar perto dos magotes refrigerados do radiador) o filtro esportivo é colocado sem proteção alguma em contato quase que direto aos cabeçotes do motor, que exalam calor ao extremo. E o filtro vai captar o máximo de ar quente que ele conseguir e mandar direto para a câmara de combustão, o que simplesmente pode gerar até 20% de perda de performance na moto! Mas como isso acontece?

Nunca instale seu filtro assim! Em contato quase que direto com os cabeçotes, ele vai enviar ar quente com pouquíssima densidade para dentro do motor.

AR QUENTE É O MAIOR VILÃO DA PERFORMANCE
Quanto menor for a temperatura, maior a massa de ar (mais denso e rico de oxigênio ele será) que caberá na câmara de combustão e, consequentemente, maior o de combustível. Quanto mais frio o ar admitido pelo motor, melhor será o rendimento volumétrico da queima da mistura ar-combustível. Você já deve ter visto os famosos “inter coolers” para carros, e eles fazem exatamente o trabalho de refrigerar o ar que vai pro motor para deixa-lo denso e rico em oxigênio.
O aquecimento e resfriamento do ar alteram a sua densidade, este quando aquecido diminui de densidade e tende a subir (como o “ar” quente em um balão o eleva), e quando resfriado aumenta de densidade e tende a descer, ficando rico em oxigênio. Então quanto mais frio o ar chegar dentro do motor, melhor será a performance geral da moto. Por isso, as vezes a solução de direcionamento e contenção de ar previstas pelos engenheiros que projetaram a moto, supera em muito qualquer solução de mercado que prometem receitas mágicas de performance. E se você está tão preocupado assim com performance, observe que até a sua localização geográfica pode ajudar a sua moto perder performance com um filtro mal instalado. A densidade do ar, assim como a pressão do ar, diminui com o aumento da altitude também, então se você morar em Nova York ficará feliz em saber que a altitude de lá em relação ao mar é de 10 metros apenas e não irá alterar a densidade do ar deixando o sua mistura de combustível naturalmente rica. Se você morar em São Paulo, a altitude já sobe para 760 metros em relação ao mar, o que já castiga bem a densidade do ar. Se você for morador de Campos dos Jordão, lutará contra 1628 metros de altitude em relação ao mar e se você não colaborar com sua moto, instalando um filtro de ar sem as devidas proteções térmicas, não espere que sua moto lhe dê algo em troca em relação a performance. Isso é tão incisivo, que se você observar, em épocas de frio o consumo da moto é bem melhor do que em épocas de calor.

Esse projeto de fluxo de ar nas Indians Scout não está aí sem propósito! O ar fresco pra dentro do motor garante a performance da queima ar-combustível.
Trecho do programa “Jóias sobre Rodas” que ilustra a mesma situação do uso inadequado do filtro de ar esportivo numa Porshe.

Essas foram apenas algumas dicas para você cuidar cada vez melhor da sua moto, se você quiser mais informações sobre esse assunto específico, entre em contato com a gente!

Pilote sempre equipado e em segurança! Boas estradas!

6 respostas para “Filtro de ar esportivo… Performance ou modismo?”

  1. Excelente texto irmão. Conteúdo de primeira, aprendi muito. As vezes falamos besteiras por aí, ou melhor, replicamos besteiras. Nada como um embasamento físico! Abs

    1. Conheci o site de vocês através de outra postagem compartilhada no fórum Suzuki online sobre retificadores. Achei bem interessante a ideia de vocês em propagarem informações técnicas.

      Gostei deste artigo e é um assunto de grande relevância. Apenas gostaria de mostrar minha opinião:

      No trecho “nenhuma fórmula mágica que irá mudar o processo de como a captação de ar foi idealizada pelo fabricante da moto.” Realmente não há mudança na forma de captação ideal do ar, entretanto, haverá mudança na relação ar combustível proporcionada pelo filtro que permite um maior fluxo de ar. É claro que hoje em dia as centrais compensam essa mistura aumentando ou diminuindo a quantidade de combustível injetada na câmara de combustão e, invariavelmente, o consumo sofrerá alterações.

      Além disso, quem roda muito em off e zonas rurais não deve optar por filtros tipo K&N e sim por outros de espuma. Participo de um grupo off e um K&N com 5000km na África twin nova já estava podre.

      Na minha v-strom colocarei K&N pois não rodo tanto em off e economicamente é a melhor opção, pois basta lavar que tá novo.
      Com a troca do filtro vou “selar” a caixa de ar com vaselina para aumentar a retenção de poeira.

      Gostaria de usar os filtros da ar hiflo, porém, ainda não há para as novas v-strom.

      Perdi a confiança nos filtros de óleo K&N depois de ler diversos relatos de vazamento de óleo aqui e lá fora, inclusive em competições.

      1. Vee_rider gratidão por acessar nosso site!

        Gratidão também pelo comentário e pela ótima questão sobre a questão do fluxo de ar!
        Sobre a questão das off road, suas dicas são fundamentais! Se não forem os bons e antigos filtros de espuma, o resultado é perigoso para a saúde do motor além das paradas para manutenção que serão uma constante. Selando sua V-Strom (sua moto é espetacular!), certamente vai compensar esses vazamentos do K&N. Efetivamente o K&N pra mim na nossa condição econômica é viável só por ser lavável, mas comungo com você o mesmo sentimento de perda de confiança no K&N, também acompanho os tristes relatos de vazamento de óleo na turma lá de fora.

        Mais uma vez agradeço imensamente por acessar o site!

        Forte abraço!

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