
Que nossas estradas são de péssima conservação sendo em sua maioria um risco para quem se arrisca a andar de moto, não é nenhuma novidade. E a primeira parte da moto que sofre com os impactos da buraqueira é sua guarnição da frente. Pneu, Calipers de freio, sensores de velocidade, raios, discos de freio, canelas, bengalas, retentores, mesa de direção e por aí vai… São tantos itens fundamentais que sofrem quando caímos nos famigerados buracos, desníveis e afins que é raro de se ver uma moto que não tenha algum detalhe nessas partes que listamos.

E somado a isso, temos o piloto que recebe o resto do impacto que não foi absorvido pala suspensão em seus braços e ombros. O incômodo gerado pelas pancadas pode levar a decisões equivocadas pelos proprietários e mecânicos sobre como ajustar a suspensão de maneira a minimizar esse desconforto causado pelas pancadas. Vale lembrar que as motos saem de fábrica com seus fluídos originais que as vezes são apenas para transporte ou são fluídos proprietários desenvolvidos para a moto na ato de sua produção e teste. Certamente esse mesmo fluído não estará disponível no mercado quando o proprietário da moto for realizar sua substituição (nem mesmo na concessionária). Porém, os fluídos ofertados pela maioria dos fabricantes especializados, são diversas vezes mais eficientes que os fluídos originais e são adotados nas próprias montadoras como opção na hora das revisões.

Na tentativa imediatista de minimizar o desconforto dos solavancos que a suspensão devolve para os braços de quem pilota, muitos proprietários seguem a opinião de colocar um óleo com maior viscosidade na suspensão para que a reação ao impacto nos buracos seja mais suave, contrariando até mesmo as indicações do fabricante descritas no manual de serviços da moto. A primeira e como dito, imediata impressão é a de melhoria no retorno para os braços do piloto, porém quem passa a sofrer em excesso são os componentes da frente da moto que certamente recebem todos os vetores de forças aplicados no impacto. Vamos ver um exemplo disso com a Indian Scout: – no manual de serviços, é informado que o óleo original utilizado na suspensão dianteira na fábrica, possui as seguintes características:
– Viscosidade 10W
– Viscosidade Cinemática de 15,4 mm2/s
– Ponto de Fulgor de 40ºC
Basicamente esses valores são os indicados pelos engenheiros que projetaram a Indian Scout como adequados para que o sistema de suspensão dianteira consiga fazer seu trabalho. Esses dados de viscosidade indicam a a resistência de um fluido ao escoamento, isto é, ao transporte microscópico de quantidade de movimento por difusão molecular. Ou seja, quanto maior a viscosidade, menor será a velocidade com que o fluido se movimenta e como está descrito no manual, o óleo tem que ter a característica mínima de 15,4 mm2/s e o Flash Point (que é o Ponto de Fulgor) de 40ºC. O Ponto de Fulgor é a menor temperatura na qual um combustível liberta vapor em quantidade suficiente para formar uma mistura inflamável por uma fonte externa de calor. No caso da Scout se o óleo das bengalas estiverem na casa dos 40ºC não existe risco de acontecer algum tipo de combustão acidental pela eliminação dos gases combustíveis.

E o que acontece, de forma inadequada para o sistema da suspensão, é que o proprietário aumenta por sua conta e risco o valor de viscosidade na hora da escolha do fluído para a troca, o que deixa o sistema com um óleo mais lento que acaba retardando o solavanco de um impacto de um buraco, devolvendo a onda de choque para o solo antes que chegue aos membros do piloto, porém os vetores de força continuam lá e são devolvidos para a câmara interna dos cartuchos das molas de suspensão, aumentando a pressão e temperatura interna do cilindro telescópico, arrebatando os retentores de borracha e gerando vibração em excesso nos calipers e pastilhas de freio. É uma troca de conforto ao pilotar, pela degeneração precoce de todo os sistema de suspensão e freio da moto, que passa a trabalhar de forma super dimensionada correndo o risco de ser avariada e deixar o piloto em situações de risco ou até mesmo sem condições de seguir viagem na estrada.
Em consulta ao parceiro Lucas Quinaud, Engenheiro Mecânico e proprietário da OTTO CYCLES, no exemplo que demos da Indian Scout, o óleo da mesma viscosidade indicada no manual de serviços (10w), porém da marca MOTUL já possui características bem superlativas ao original de fabrica, conforme consultamos no rótulo:
– Viscosidade 10W
– Viscosidade Cinemática de 35,9 mm2/s
– Ponto de Fulgor de 232ºC
Adotar um óleo de viscosidade maior como o 15W da Motul no caso da Indian Scout, imediatamente passa a sensação de conforto para quem pilota, mas a um custo a médio prazo muito alto. Além de desacelerar o movimento telescópico das bengalas, tornando ineficiente a leitura do terreno pelo sistema todo (que envolve pneus e os dados para a atuação do ABS) a onda de choque do impacto retorna para todos esses componentes. Sintomas como pastilhas de freio batendo, rolamentos da mesa de direção com folgas e “calos” são os mais fáceis de se perceber. Outros mais ocultos podem representar uma bela fatia de dinheiro da carteira do proprietário para poder arcar com os reparos, além de representarem um risco para segurança na hora da pilotagem. Os rolamentos da roda sofrendo mais choques e trepidações do que receberiam com o óleo correto no sistema de suspensão, tendem a executar as rotações da roda com folgas e trepidações, repassando isso para o disco graduado de leitura de velocidade que alimenta o sensor de velocidade (podendo empená-lo) que passa os dados para a ECU e para o sistema ABS. Logo, a moto apresenta falhas de leitura do sensor ABS e por falta de um diagnóstico mais preciso de quem realiza a manutenção, acaba por trocar um sensor que é caríssimo, e as vezes, apenas a troca dos rolamentos, o reajuste da distância do sensor de velocidade, o reset das memórias de erro e a troca pelo óleo correto para a suspensão resolveriam o problema. Ou com o uso do óleo correto, isso nem ocorreria.
Mas então, o que fazer para melhorar o conjunto da suspensão e aumentar o conforto ao pilotar? Para isso existem uma gama de alternativas, a mais indicada nesses casos é a troca do sistema de molas internos dos cartuchos, por molas progressivas e o ajuste a altura dos batentes internos mantendo a mesma graduação de óleo indicada pelo fabricante.

Essas foram apenas algumas dicas para você cuidar cada vez melhor da sua moto, se você quiser mais informações sobre esse assunto específico, entre em contato com a gente!
Pilote sempre equipado e em segurança! Boas estradas!
Parabéns! Muito elucidativo.
Gratidão por ler o artigo meu amigo!
Forte abraço
Excelente artigo. Parabéns!
Gratidão por ler o artigo meu amigo!
Abração
Olá. Acompanho seu site e acho seu texto diferenciado, bem técnico e muito confiavel-coisa rara hoje em dia. Comprei as molas progressive, mas no seu manual eles recomendam óleo 20w pra Scout 16. Somado a isso o constante fim de curso consequência do nosso pavimento, vcs acham q compensa ficar no meio termo e usar óleo 15w?
Olá Fábio! Muito obrigado por acessar o site! A gratidão pelos elogios, isso me encoraja cada vez mais a melhorar o conteúdo!
No caso das molas da Progressive, existe uma diferença muito grande no material usado na composição da mola. Recomendaria colocar o indicado por eles mesmo (20w) porque a mola deve gerar uma pressão muito maior dentro da câmara da canela da Scout e a viscosidade exagerada deve servir não só para ajustar a velocidade da flexão da mola bem como regular termicamente o ambiente interno da suspensão, que deve aquecer mais em função da pressão que a mola progressiva vai desferir no sistema todo. Com isso, as propriedades do óleo serão consumidas bem rapidinho, te recomendo a criar um plano de troca do óleo das bengalas anualmente e não terá problemas.
Mais uma vez gratidão pelo acesso e por comentar também!
Fico a disposição!
Forte abraço